Dia 21 - Edição Especial - Amada

E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro e viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. E, tendo dito isso, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)! Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor e que ele lhe dissera isso. Joao 20:11-18



Desde os tempos do Êxodo, o Santo dos Santos, a parte mais interna do Tabernáculo, era um lugar separado, um espaço sagrado ao qual apenas o sumo sacerdote podia entrar, e apenas uma vez por ano, no Dia da Expiação. Ele entrava com reverência, com o sangue de um sacrifício, para aspergi-lo sobre o propiciatório. O Dia da Expiação simbolizava o perdão dos pecados e a reconciliação entre Deus e Seu povo. Atrás de um véu espesso, o Santo dos Santos era o espaço onde habitava a presença de Deus, um lembrete severo de que o pecado separava a humanidade do Deus santo.

O propiciatório era a cobertura dourada colocada sobre a Arca da Aliança, com dois querubins voltados um para o outro, com as asas cobrindo o espaço onde a presença de Deus habitaria. Era o lugar onde Deus se encontrava com Seu povo. Dentro da arca também estavam as tábuas de pedra da aliança e o maná, símbolos da lei de Deus e de Sua provisão.

Maria estava chorando do lado de fora do túmulo. Maria, que antes fora possuída por sete demônios, havia vivido em completa escuridão espiritual, impura, não cheia do Espírito de Deus, mas atormentada por espíritos malignos. Seu corpo estivera unido não ao único e verdadeiro Deus, mas a outros deuses. A imagem da adúltera espiritual. Ela encarnava a imagem da infidelidade espiritual, como Israel ao longo de sua história, chamada à fidelidade da aliança, mas muitas vezes desviando-se atrás de outros deuses.

Maria entra no túmulo e vê o lugar onde o corpo de Jesus havia sido colocado, talvez ainda marcado, aspergido com Seu sangue. Dois anjos estão sentados, um à cabeceira e outro aos pés.

Você percebe a imagem? Ela está diante de uma representação viva da Arca da Aliança, como o propiciatório no Santo dos Santos, onde o sangue da expiação era aspergido. E ali está a noiva outrora adúltera, que havia quebrado sua aliança com Deus, agora permitida na própria presença de Deus.

Maria está em solo sagrado. O véu foi rasgado. O Cordeiro da Páscoa foi imolado. A expiação final e perfeita pelo pecado foi realizada. Diante dela está a verdadeira e viva Arca da Aliança, o lugar que, poucas horas antes, havia contido o verdadeiro maná do céu, partido pelo mundo, e a verdadeira encarnação da perfeita lei de Deus, Jesus. Naquele momento sagrado, Maria está testemunhando o cumprimento de toda sombra, todo sacrifício, toda promessa e toda profecia relacionada à expiação e à redenção.

Maria se vira e vê Jesus ali, o verdadeiro e final Sumo Sacerdote, que acabara de cumprir a Festa da Páscoa, a Festa dos Pães Asmos e o Dia da Expiação, oferecendo a Si mesmo como o sacrifício puro e tornando-Se o mediador entre os homens e Deus.

Ele fala com ela, a ovelha outrora perdida, a noiva anteriormente infiel, perguntando: “Mulher, por que choras? Quem buscas?” Ela já não corre atrás de falsos deuses, ídolos ou imagens vazias. Ela está buscando por Ele, o Redentor, o Noivo, o Pastor de sua alma. Pensando que fosse o jardineiro, ela suplica: “Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.” Seu coração já não está vagando. Agora busca apenas por Ele.

Jesus a chama pelo nome. Não a chama de “perdida”, nem “possuída”, nem “adúltera”, nem “rebelde”, nem “incrédula”, mas simplesmente e com ternura: Maria. Esse nome significa “amada”. Naquele momento, ela não é mais definida por seu passado, mas pela graça dEle. Ela foi purificada, perdoada, redimida, digna de estar na presença do Santo dos Santos, de contemplar a verdadeira Arca da Aliança, de receber o maná vivo, de encarar a perfeita Lei cumprida em Cristo, e de atravessar o véu rasgado. Ela, que antes era pecadora, presa nas trevas, agora é santa. Já não é cativa, mas noiva amada, tornada pura para o seu futuro Noivo.

"Vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus". Seu Redentor a chamou pelo nome, e agora o Pai dEle é seu Pai, o Deus dEle é seu Deus. Ela foi introduzida na família, acolhida, restaurada, amada.

Em Êxodo, quando o tabernáculo foi concluído, a glória de Deus desceu ao Santo dos Santos para habitar entre Seu povo. Que maravilha deve ter sido testemunhar essa glória! E agora, nas sombras silenciosas da meia-escuridão, enquanto o mundo paira em inconsciência, essa mesma glória se revela, não na nuvem ou no fogo, mas no corpo ressuscitado de Jesus. Maria está diante do verdadeiro Cordeiro Pascal, do eterno Sumo Sacerdote, trazendo as marcas de Seu amor por ela.

O túmulo não está mais selado. O véu não está mais no lugar. O Santo dos Santos foi aberto amplamente. Ele ressuscitou—e nós fomos redimidos.

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